Saúde

Mioma: um problema que acomete até 70% das mulheres em idade fértil

24 de maio de 2017

No Brasil, cerca de 300 mil mulheres por ano, perdem o útero como consequência da doença

Apesar de ser um mal que pode atingir de 30% – 70% das mulheres em idade fértil, nem todos os miomas evoluem com sintomas . Só cerca de 20%- 30% das pacientes tem queixas importantes e são estas que requerem tratamento mais intensivo. Entretanto, o acompanhamento médico das portadoras de miomas é necessário e deve ser feito regularmente pelo ginecologista.

O Brasil ainda tem um número elevado de cirurgias para retirada do útero (histerectomia). O ginecologista e obstetra, Dr. Claudio Basbaum, diretor-médico da PRÓ-MATRIX , alerta que muitas dessas intervenções deveriam e poderiam ser evitadas graças a tratamentos adequados conservadores menos radicais.

O útero é um órgão importante para a mulher e culturalmente está ligado à feminilidade e à sexualidade, uma vez que a fertilidade necessita deste órgão para a procriação. Entretanto, “desde os tempos antigos ” criou-se um mito: erroneamente associou-se o desejo e o prazer sexual à presença deste órgão. Com a sua remoção, algumas mulheres se sentem “frias”, deprimidas, com baixa autoestima e “vazias por dentro”, embora não haja qualquer relação biológica para estes sentimentos, afirma o especialista. É o que se chama de “Síndrome da Mulher Ôca” e se fundamenta exclusivamente nos aspectos emocionais e simbólicos que o órgão matriz representa.

Algumas vezes, o mioma é tão pequeno que só por meio da ultrassonografia ou ressonância magnética pélvica é possível diagnosticá-lo. Inclusive, na maioria dos casos, as mulheres descobrem que possuem o problema por acaso, em um exame de rotina ginecológico ou quando começam a sentir alguns sintomas característicos provocados pelos nódulos, tais como menstruações abundantes, sangramentos genitais irregulares anormais, dores, pressão dentro do abdome , etc.. O mais comum é uma mulher ter de três a cinco miomas, mas não é incomum o útero sem tomado por mais de 10 miomas de tamanhos e localizações variadas ”, revela o Dr. Basbaum. Os miomas são muito mais frequentes na mulher negra do que nas mulheres brancas , seu crescimento é mais agressivo e os sintomas mais acentuados. Isto explica porque a incidência de cirurgias na mulher negra que tem miomas é bem mais elevada.

O seu desenvolvimento está ligado a uma predisposição genética que promove multiplicação acelerada e focal – uma espécie de clonagem- das células musculares uterinas e uma maior sensibilidade das fibras musculares uterinas aos hormônios femininos – estrógeno e progesterona.

Sintomas:

– Cólicas menstruais intensas;
– Crescimento anormal do útero;
– Sangramento uterino anormal, fora da menstruação;
-Fluxo menstrual excessivo e com coágulos;
– Dor abdominal persistente ou recorrente ;
– Sensação de que os órgãos internos estão sendo comprimidos;
– Dor anormal nas costas e pernas;
– Anemia por sangramento uterino anormal;
– Vontade constante de urinar pela compressão do útero sobre a bexiga ;
– Dor durante as relações sexuais.

Além dos sintomas, o mioma pode ter outras consequências como diminuir a fertilidade da mulher, já que muitos deles deformam inclusive a cavidade uterina, o que pode impedir o implante do ovo , causar abortamento ou até mesmo interferir mais precocemente, desviando ou comprimindo as trompas e atuando como barreira para o encontro do espermatozoide com o óvulo.

O tratamento deve lançar mão de técnicas eficazes e seguras que preservem o potencial reprodutivo e garantam qualidade de vida para a mulher. O tratamento conservador varia desde o uso de medicamentos , retirada dos miomas (miomectomia), seja através da videolaparoscopia ou videohisteroscopia ( cirurgias minimamente invasivas) ou laparotomia (abertura do ventre) ou por meio da técnica de embolização dos miomas . Não obstante , a primeira opção de tratamento deve ser através de medicamentos, tais como anti-inflamatórios não hormonais ou progestogênios que promovem a diminuição da dor e do fluxo menstrual.

Outra linha de substâncias também utilizadas , os chamados “análogos do GnRh “, bloqueiam a fabricação de hormônios pela hipófise – glândula situada logo abaixo do cérebro – que estimulam a produção dos hormônios ovarianos . Estes hormônios, além de regularem o ciclo menstrual também contribuem para o crescimento dos miomas existentes.

Com a administração destes “análogos”, a função ovariana é bloqueada; criamos um estado temporário semelhante a uma “menopausa” artificial de uns 2 a 8 meses . Assim, a mulher para de menstruar e os miomas regridem significativamente, criando condições mais favoráveis para a sua retirada por via mininvasiva, explica o Dr. Claudio. Salientemos que este é um tratamento temporário e que se presta apenas para parar por um período as hemorragias, corrigir a anemia e “encolher” os nódulos, criando melhores condições para a cirurgia.

Cirurgias
A escolha do tipo de técnica cirúrgica vai depender do diagnóstico preciso das características dos miomas.

Tratamentos conservadores
– Videolaparoscopia
– Videohisteroscopia cirúrgica
– Laparotomia
– Embolização de Miomas

Tratamento radical
Histerectomia

Videolaparoscopia
Quando localizados na intimidade da parede intrauterina (intramurais) ou fora do útero, o ideal é o uso da videolaparoscopia.
Neste procedimento é feito um pequeno corte de 10 milímetros no contorno do umbigo para introdução de uma óptica com uma microcâmera para fazer a visualização em monitores de TV, de toda a cavidade abdomino- pélvica e seus órgãos . Por meio de mais 3 pequenas e discretas punções de 5 milímetros é introduzido o instrumental operatório , adequado para a abordagem do útero e dos miomas. Segue-se com a retirada de cada mioma, através de incisões no seu entorno que serão em seguida serão suturadas uma a uma.

Nestas cirurgias por vídeo, a eficácia é excelente, as incisões praticamente desaparecem, o pós-operatório é bem tranquilo e a a paciente costuma passar apenas um dia no hospital podendo retornar para a “vida normal” entre 1 e 2 semanas .

Videohisteroscopia cirúrgica
Caso o/os miomas estejam dentro do útero (submucosos) é realizada a videohisteroscopia cirúrgica. Neste caso, após dilatação do orifício do colo e do canal uterino e distensão da cavidade uterina por uma solução, a óptica acoplada na câmera e os instrumentos cirúrgicos necessários são introduzidos no útero pela vagina e através do colo/canal uterino prévia e levemente dilatado. Por meio de um instrumento específico – ressectoscópio- , os miomas são fragmentados e retirados por via vaginal e as áreas eventualmente sangrantes são cauterizadas.

Laparotomia
Existe também a miomectomia por laparotomia, que é a retirada dos miomas pela técnica tradicional, abrindo a cavidade abdominal para acessar o útero e os miomas. Neste procedimento, a recuperação é mais lenta e a paciente pode levar cerca de seis semanas para voltar às atividades normais.

Embolização
Nesta técnica, baseada na radiologia intervencionista, um cateter é introduzido numa artéria da virilha, através de uma punção de 2 milímetros. Com as imagens transmitidas, por radioscopia com contraste, alcança-se as artérias que alimentam o útero e os miomas. Ali são injetados pequeníssimas esferas de material sintético (agentes embolizantes), que interrompem a passagem do fluxo sanguíneo. Sem essa irrigação, os miomas não têm como se “alimentar” e acabam como que “morrendo”, fibrosando e encolhendo até mais de 50% . Mulheres que eram sintomáticas, quase imediatamente passam a ser assintomáticas. Pequenos miomas , ainda em formação também são atingidos e tem seu crescimento interrompido. O mais interessante neste procedimento é que o útero praticamente não é agredido e o ato, feito sob anestesia peridural ou raque e sedação, dura no máximo uma hora e a alta é dada em 24 horas.

Os resultados da embolização são impressionantes: após o primeiro/segundo mês de cirurgia, 90/ 95% das mulheres se livram das cólicas menstruais e dos sangramentos anormais e excessivos. Em um ano, o tamanho do mioma e o útero diminuem em até 50-60% e não voltam mais a crescer, conclui o Dr. Claudio Basbaum que é um dos pioneiros no uso desta técnica no Brasil.

Histerectomia
Como tratamento radical é feita a retirada do útero- histerectomia-, cuja taxa de realização nas mulheres portadoras de miomas ainda é exageradamente elevada em todo o mundo, alcançando índices de 60%-70% dessas cirurgias em mulheres entre 35 -54 anos. Muitas dessas intervenções poderiam ser evitadas caso fossem oferecidos métodos conservadores eficientes que solucionam mais de 80% dos sintomas decorrentes da presença dos miomas e que preservam a capacidade reprodutiva da mulher.

Foi baseado nesses princípios que o Dr. Basbaum, em 1996 criou a campanha permanente “Mulheres, Salvem seus Úteros! Diga NÃO às cirurgias ginecológicas desnecessárias” , por meio da Pró- Matrix – Unidade de Orientação, Preservação e Tratamento da Mulher. A Pró-Matrix se propõe a reduzir o número excessivo dessas cirurgias mutiladoras, quando desnecessárias.

 

Dr. Claudio Basbaum é médico, com especialização na Universidade de Paris, França.

Professor-Doutor em Ginecologia e Obstetrícia, pioneiro da laparoscopia no Brasil (1967), defensor de técnicas menos agressivas à mulher e ao bebê (como o parto de cócoras ou “Parto das Índias”),  foi introdutor do Parto Leboyer (o “Nascimento sem Violência”)  e da técnica Shantala de massagem para bebês no Brasil .

Membro do Corpo Clínico do Hospital e  Maternidade São Luiz / Grupo D’Or, em São Paulo, o ginecologista tem  53 anos de profissão e defende a população feminina de cirurgias mutiladoras desnecessárias desde há 21 anos, quando criou a Pró- Matrix (Unidade de Orientação, Preservação e Tratamento da Mulher) e a campanha permanente  “Mulheres, Salvem seus Úteros!”  (www.claudiobasbaum.med.br) .

É pioneiro e introdutor no Brasil de diversas técnicas avançadas em medicina como a laparoscopia (1967),  videocirurgia, videolaparoscopia e videohisteroscopia (1988)  e a  embolização para eliminação dos miomas uterinos (2000),  procedimentos mininvasivos de máxima eficácia terapêutica e com um mínimo de trauma e rápida recuperação.

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