Pai de Rute, 9, e do Ismael, 10, Edvaldo Mendes, 56, batalha todos os dias para cuidar e oferecer o melhor para os filhos. Morador da Guabiraba, bairro localizado na Zona Norte do Recife e catador de latinhas de alumínio, ele acredita que ser pai é ter zelo e prestar atenção no que os filhos estão fazendo para que não se envolvam com nada de errado. “Eu faço tudo o que posso pelos meus filhos, mesmo enfrentando muitas dificuldades diariamente. Sou gari de profissão, trabalhei muito tempo com carteira assinada em uma empresa, mas estou desempregado há quase um ano. Minha esposa, a Elizete, também não tem emprego e eu sustento a casa sozinho fazendo “bico” como catador de latinhas de alumínio”, conta.
Mendes nunca frequentou a escola, pois não gostava de estudar e também não tinha incentivo da família. O primeiro contato dele com a leitura foi aos 32 anos. Mesmo sabendo ler algumas palavras atualmente, Edvaldo ainda não sabe escrever. “Não tive apoio de pai, pois minha mãe me criou com meu irmão sozinha, mas não tinha sabedoria para orientar e não sabia como a escola é importante para a criança”, conta. Ele recorda do momento em que aprendeu a ler e comenta sobre o fato de ainda não saber escrever. “Comecei a ler sozinho, foi um milagre eu conseguir juntar as letras e ler uma palavra inteira, fiquei muito alegre. Porém, até hoje eu não sei escrever tudo, apenas meu nome. Nunca consegui escrever nem o nome dos meus filhos, mas de leitura eu sou bom e sei ler até jornal”, afirma.
Por conta da falta de acesso à educação, Edvaldo perdeu bastante oportunidade de trabalho. “Por ser analfabeto, eu não conseguia pegar ônibus porque não sabia pra onde ele estava indo. Morria de vergonha de pedir ajuda às pessoas na rua, parecia que tinha um peso nas minhas costas de tanta vergonha que ficava”, conta. Mesmo com um contexto difícil, ele não desiste de batalhar pela educação dos filhos. “É nos meus filhos que penso quando vou pra rua todos os dias catar latinha. Não quero que eles passem pelas coisas ruins que já passei”, afirma.
Os dois filhos de Edvaldo estudam em uma escola pública, pois a família não tem condições de pagar colégio particular. As crianças participam dos projetos da ONG Visão Mundial, organização não governamental humanitária especializada na proteção à infância, em Recife. “Agradeço pelos filhos que tenho, porque são crianças tranquilas e carinhosas comigo. Também sou muito agradecido pela Visão Mundial por me ajudar a cuidar das minhas crianças; eles recebem reforço da escola e estudam música nas aulas de rabeca. Ficam protegidos fora das ruas e não se juntam com quem não presta. Eles estão sendo bem preparados para o futuro”, afirma. E continua: “Meu sonho é que meus filhos estudem e sejam alguém na vida. Esse é o principal conselho que digo a eles porque são a maior bênção que eu e a minha mulher temos, elas são um presente de Deus pra nós”.
A Visão Mundial realiza um trabalho de ouvidoria com a família das crianças e adolescentes atendidos. A ONG dá todo suporte, junto com a Rede de Proteção à Criança e do Adolescentes, uma série de organizações do Governo e da sociedade civil, para os pais que precisam de atendimentos médicos, entre outros serviços.
O contexto na Zona Norte do Recife, onde a Visão Mundial atua, é de extrema vulnerabilidade social com altos índices de violência. Normalmente, o cuidado dos filhos fica com a responsabilidade das mães, pois muitos pais não têm a consciência que precisam ajudar não apenas no suporte financeiro, mas também na relação afetiva. “A presença do pai na comunidade é muito distante, poucos pais têm a disponibilidade e esforço que o Edvaldo tem, pois ele participa das atividades, reuniões e se preocupa com o desenvolvimento dos filhos”, afirma David Chargas, coordenador da sede dos projetos da Visão Mundial em Recife.
Em Recife, a Visão Mundial atende mais de 1.000 crianças e adolescentes com projetos na área de educação em parceria com escolas públicas por meio do Conexão Escola, metodologia de prevenção à violência e fortalecimento psicossocial-emocional e cognitivo da criança. Durante a semana, a ONG recebe cerca de 70 crianças na sede dos projetos, localizada na comunidade de Guabiraba, e oferece aulas de música com rabeca e violão, além de oficinas para estimular práticas de leitura e escrita das crianças e adolescentes.
Sobre a Visão Mundial
A Visão Mundial Brasil integra a parceria World Vision International, que está presente em cerca de 100 países. No País, a Visão Mundial atua desde 1975 em 10 estados, beneficiando 2,7 milhões de pessoas com projetos nas áreas de educação, saúde/proteção da infância, desenvolvimento econômico e promoção da cidadania. Seus projetos e programas têm como prioridade as crianças e adolescentes que vivem em comunidades empobrecidas e em situação de vulnerabilidade. Nesses 42 anos de atuação no Brasil, a Visão Mundial se consolida como uma organização comprometida com a superação da pobreza e da exclusão social.
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