Livro TUDO É RIO

PQP! Que livro é esse? Fazendo um trocadilho com as histórias aqui contadas, este livro é uma torrente de emoções – um grito visceral que ecoa a intensidade da narrativa.

Ao abordar o início dessa jornada, confesso que é um desafio encontrar as palavras certas para descrever a trama complexa e envolvente que se desenrola. No começo, pode até parecer uma dança confusa, mas assim como um rio, a história flui, lentamente revelando seus meandros até você se encontrar completamente imerso nesse mundo de personagens tão intrigantes quanto as correntezas de um rio sinuoso.

“Mas e o amor? O que é senão um monte de gostar? Gostar de falar, gostar de tocar, gostar de cheirar, gostar de ouvir, gostar de olhar. Gostar de se abandonar no outro. O amor não passa de um gostar de muitos verbos ao mesmo tempo.”

Enquanto TUDO É RIO, narra a vida entrelaçada de Lucy e Venâncio – ou melhor, seria a de Dalva e Venâncio? As linhas entre protagonistas e coadjuvantes se desfazem, pois até mesmo aqueles em segundo plano têm o poder de causar impacto, personagens como Aurora e Francisca ganham vida própria e refletem a riqueza do enredo.

Mas eis a trama que se desenha: Lucy, uma criança que perde os pais num golpe do destino, é acolhida por sua tia Duca. No entanto, o que deveria ser um acolhimento para Lucy, transforma-se numa experiência de rejeição e até crueldade, moldando Lucy em uma gata borralheira moderna, ávida por vingança. Essa vingança toma forma de maneira cruel, uma reviravolta que deixarei para as páginas do livro revelarem com maestria.

“O lugar que dói é o mesmo que sente arrepios. É no corpo, no amor e na liberdade de escolher as coisas que a gente fica inteiro ou despedaçado. Então, pede para a parte boa dar conta da parte ruim.”

Enquanto o enredo se desenrola, somos levados mais fundo na mente de Lucy. Descobrimos seu talento magnético para envolver os homens, usando o sexo como sua moeda de troca. Lucy é uma personagem bastante voluptuosa. Ela é uma prostituta que gosta de ser prostituta. Mas então, como uma brisa refrescante, surge Venâncio – um homem misterioso e rude que resiste aos encantos de Lucy. Sua rejeição acende uma chama obscura dentro dela, uma obsessão ardente que se torna uma dança perigosa.

“Venâncio estava exausto dele mesmo , de viver naquele corpo , das lembranças na boca amarga , tinha saudade demais dentro dele , o remorso era um estilete afiado ferindo tudo . Correntes . Queria um pouco de vazio . Tinha pressa de morrer , era isso o que mais tinha .“

Mas há mais em TUDO É RIO. Outra correnteza narrativa nos leva à vida de Dalva, uma história em contraste com a de Lucy. Criada num ambiente amoroso, Dalva encontra em Venâncio um amor que parece saído dos contos de fadas. No entanto, como em toda boa história, a tragédia se abate, e é aqui que a trama ganha ainda mais profundidade. Venâncio é um pouco ciumento e aí vai acontecer uma tragédia na vida desse casal que não posso contar, porque é algo bastante chocante para o qual você deve estar preparado, porque é forte.

Mas Carla Madeira trata tudo de uma maneira tão impressionante que você vai se ver arrebatado, arrastado por uma correnteza. É uma poesia do início ao fim, a história é, mas nada que já não tenhamos visto.

“Perder amores é escurecer por dentro, uma memória do corpo que o entardecer evoca quando tinge o céu de vermelho. Para quem está sozinho depois de ter amado, o fim do dia é muito triste. Era nessa hora que ela voltava.”

As vidas desses três personagens se entrelaçam de maneira tão hábil que a leitura se torna uma experiência hipnotizante, levando-nos por um turbilhão de emoções. Cada reviravolta, por mais breve que seja, é como uma volta do rio, uma curva que revela surpresas e desdobramentos que nos deixam sem fôlego.

“É preciso uma coincidência qualquer para que o amor se instale. Existe um certo milagre nos encontros. Não é tolo dizer que o amor é sagrado.”

E então chegamos ao ápice, ao desfecho que é a cereja do bolo. Após inúmeras curvas e remansos, somos brindados com um desfecho que nos deixa com uma mistura complexa de emoções. É aquela sensação inexplicável de que o desfecho é exatamente o que desejávamos, embora jamais pudéssemos antecipá-lo. Ao mesmo tempo, dentro da maldade ali, você consegue encontrar uma beleza, um amor, uma poesia. Mas no geral, é um livro sobre a dor.

“Dalva também se arrumou, soltou o cabelo, pôs um vestido antigo de primavera. Reencontrou seu jeito de andar quando saiu com ele pela rua. Naquele dia, esqueceu em algum lugar as toneladas do mundo que carregava nos ombros. Começava a se despedir de seu casulo cinza. Suas asas já tinham cor e forma e rompiam a casca que acolheu por anos a sua morte, se engravidando de uma nova vida. Ainda não era, mas seria uma borboleta.”

Para aqueles que buscam uma leitura que seja uma fusão perfeita entre escrita eloquente, narrativa envolvente e personagens que ganham vida, TUDO É RIO é mais do que uma recomendação – é uma necessidade. A autora, cujo talento estava além dos meus radares até agora, cria uma tapeçaria emocional que nos enreda e nos deixa maravilhados.

“O amor, quando nasce forte, tem pressa de ser eterno.”

Para concluir, é impressionante como a autora estabelece uma analogia entre a vida e um rio. Isso sugere que, assim como um rio flui, se desdobra e revela seus segredos ao longo do percurso, as histórias e emoções presentes no livro também fluem e se desenrolam. A água funciona como uma metáfora para a experiência humana, englobando desde momentos de beleza e amor até situações difíceis e dolorosas. O livro transmite a ideia de que a vida, de maneira similar a um rio, é repleta de emoções, reviravoltas e reflexões. Esses elementos são habilmente capturados na obra de forma magistral.

TÍTULO : TUDO E RIO – 1ªED.(2021)
ISBN : 9786555871784
ENCADERNAÇÃO : Brochura
FORMATO : 15,5 x 23
PÁGINAS : 210
ANO DE EDIÇÃO : 2021
AUTOR : Carla Madeira