Algumas semanas atrás, a Revista Época lançou a campanha
#partocomrespeito, escrita pela repórter Thais Lazzeri.
Para produzir a matéria, a repórter passou mais de seis meses ouvindo histórias de
grávidas e famílias que sofreram abusos nos hospitais brasileiros.
Esta não é a primeira vez que um veículo de comunicação traz à tona uma ação a fim
de discutir temas relacionados aos direitos das mulheres. A revista TPM em 2014
lançou a campanha #precisamosfalarsobreaborto para fomentar o debate e
descriminação da prática.
Mas por que esta campanha repercutiu tanto se a pesquisa apontou que 1 em cada 4
mulheres afirmam ter sofrido alguma violência durante o parto?
Antes de responder esta questão, é preciso trazer listar os conceitos dentro deste
contexto:
Violência obstétrica – A Organização Mundial da Saúde(OMS) define a expressão
como o conjunto de atos desrespeitosos, abusos, maus-tratos e negligência contra a
mulher e o bebê, antes, durante e depois do parto, que “equivalem a uma violação dos
direitos humanos
Desrespeito – É a forma menos agressiva da violência, mas a mais difundida. Inclui
ofender a paciente e dispensar a ela tratamento jocoso e insensível. Exemplo: “Na
hora de fazer foi bom não é, agora aguenta a dor”.
Abuso – É o uso de uma posição de poder para constranger a paciente ou privá-la de
um direito. Exemplo: Médico rejeitar o direito a acompanhante (apesar de o direito ser
garantido em lei desde 2005)
Negligencia – Ocorre quando profissionais da saúde atuam com irresponsabilidade,
imprudência ou adotam procedimentos superados ou não recomendados ao lidar com
paciente ou bebe.
Um dos motivos de grande repercussão da campanha é que muitas mulheres em seus depoimentos diziam não saber que aquilo que elas tinham sofrido era crime. Muitas
pessoas também demonstraram surpresa para os relatos da reportagem.
Um dos relatos mais tristes que li foi da mineira Ana Paula, que após planejar um parto
natural, foi ao hospital com uma complicação e, sem qualquer explicação por parte dos
profissionais, foi anestesiada, amarrada na cama, mesmo sob protestos, submetida a
episiotomia, separada da filha, largada por várias horas em uma sala sem o marido e
sem informações. Seu bebê não resistiu e faleceu por causas obscuras. Ana Paula
denunciou o falecimento de sua filha ao Ministério da Saúde pedindo uma investigação
e em paralelo denunciou a equipe, convênio médico e o hospital que a atenderam ao
CRM de Belo Horizonte. Diante do silêncio do Conselho, que abriu uma sindicância
em novembro de 2012 e não forneceu mais informações, a advogada de Ana Paula,
entrou com uma ação na justiça.
A verdade é que o desrespeito é uma constante cultural. A violência obstétrica não é
fruto do descaso e sucateamento da saúde, uma vez que ela ocorre em hospitais
particulares de renome.
A violência obstétrica é fruto de pensamentos patriarcais de que a mulher está
acostumada a dor, de que a mulher foi feita para sofrer. E muitas vezes é banalizada
até pelas vítimas que por falta de informação acham que é assim mesmo que tem que
ser. E não é não!
As mulheres pedem socorro, serviços públicos se tornaram sala de tortura, hospitais
em campos de concentração.
A campanha além de trazer à tona mais uma das formas de preconceito contra a
mulher e desmistificar um tema velado por esse mesmo preconceito, faz com que
muitas pessoas se sensibilizem e sintam na pele de cada uma das vítimas dessa
agressão. Lendo a reportagem e os inúmeros relatos, senti a angústia, tristeza e a
raiva ocasionadas pela sensação de impotência diante do abuso num momento tão
delicado da vida de uma mulher. Resta, porém, o sentimento de esperança, pela
expectativa de ver esta campanha, espalhada por todo o Brasil, dando às futuras
mães a possibilidade de exigir aquilo que deveria ser um pressuposto na relação
interpessoal: DIGNIDADE.
Nenhum Comentário